Peixe: remédio ou veneno?
- Barbara Rescalli
- 29 de mar. de 2018
- 4 min de leitura

No meio de tantas informações, muitas vezes as pessoas ficam completamente perdidas em relação a quais informações são verdadeiras e quais não são. O acesso a informação tem muitos benefícios, mas ao mesmo tempo, estas informações podem ser muito mal interpretadas.
Um dos grandes alvos que tenho percebido ultimamente é o peixe. Outro dia até recebi um vídeo falando de peixes que nunca devemos comer. Mas será que o pensamento realmente tem que ser assim tão radical?
Este tema é muito extenso e cheio de detalhes, teria conteúdo para escrever um livro só sobre esse assunto, porém, o objetivo deste texto é conseguir explicar de maneira simples qual é a situação atuam no Brasil, a fim de conscientizar e tentar fazer com que você consiga, dentro do possível, fazer a melhor escolha na hora de comprar e comer um peixe.
Um dos pontos mais críticos ao meu ponto de vista, é não sabermos a origem dos peixes que consumimos, afinal, o maior questionamento sobre o consumo dos peixes está associado à contaminação de metais pesados, principalmente mercúrio e outras substâncias como corantes artificiais, antibióticos e hormônios.
Tais contaminações podem vir do ambiente, por exemplo, mares e rios contaminados por mercúrio que é utilizado na extração de ouro, contaminando o solo e lençóis freáticos de toda uma região próxima às atividades garimpeiras. Ou mesmo em cativeiro, onde a ração e a água podem ser tratadas com substâncias químicas para garantir uma produção de peixes de uma maneira mais interessante economicamente, não necessariamente mais saudável.
Dentro desse ponto mais crítico, podemos pensar que se o peixe não for de cativeiro, grandes são as chances de terem menor risco de contaminação de corantes, antibióticos e hormônios. Em restaurante isto não é evidente, porém, é cada vez mais freqüente, inclusive em supermercados, encontrarmos a procedência do peixe descrito na embalagem.
Portanto, preferir os ditos “peixes selvagens” que não são de cativeiro, é uma boa alternativa. Um grande exemplo, é o salmão. O salmão selvagem pode nem ter uma cor tão vistosa, porém, é menos contaminado do que aqueles que recebem ração com substâncias químicas que deixam artificialmente a carne do peixe mais colorida.
Não é todo peixe de cativeiro que é contaminado também, claro, mas para nós, consumidores finais, tentar evitar o peixe de cativeiro pode ser uma boa saída.
Uma outra coisa que precisa ficar clara, é que, peixes que vivem no mesmo ambiente (mesmo mar ou mesmo lago ou mesmo rio) não necessariamente tem os mesmos níveis de contaminação. Isto acontece pela simples lógica da cadeia alimentar. Ou seja, peixes maiores, carnívoros que estão no topo da cadeia alimentar apresentam maiores contaminações pelo efeito de biomagnificação e bioacumulação.
Isto acontece porque se um peixe come apenas larvas de insetos, vegetais e algas do ambiente, não tem a capacidade de acumular tanto mercúrio, por exemplo, pois estes alimentos não tem uma concentração grande de metais pesados. Porém, conforme peixes maiores vão comendo peixes menores que já acumularam em seu corpo um teor de metais pesados, fica mais fácil que estes peixes carnívoros acumulem de forma maior e mais rápida tais metais.
Estudo realizado por Lima e colaboradores (2015) em rios da região Amazonas comprovou exatamente isso, identificou que apenas peixes com hábitos carnívoros tinham concentrações de mercúrio acima do permitido, são eles: Traíra, Trairão, Surubim, Pescada branca e Piranha preta.
Este mesmo raciocínio é usado para peixes de mar como é o caso do atum, salmão, cação e peixe-espada. Foi feito estudo para analisar a contaminação de mercúrio pelo tubarão na costa brasileira. Como é o peixe que está no topo da cadeia alimentar aquática, supostamente, teríamos altos níveis de contaminação, e realmente tem um alto nível de contaminação, 62% das amostras coletadas tinham níveis de mercúrio acima do limite permitido pela OMS, se considerar o limite da ANVISA que é mais tolerável, apenas 16% dos tubarões ultrapassavam o limite aceitável.
Então, mesmo nos peixes supostamente mais contaminados, não são todos que são, há uma boa parcela de peixes não contaminados. Portanto, isso mostra que a contaminação dos peixes deve sim ser uma preocupação, devemos continuar monitorando as águas e peixes do Brasil e aqueles que são importados, porém, não quer dizer que qualquer peixe é contaminado a ponto de ser desaconselhado seu consumo.
Obviamente, águas sabidamente contaminadas como a do Parque Ibirapuera, Parque Ecológico do Tietê e Rio Doce não devem ser utilizados para pesca, pois nessas áreas até peixes pequenos e não carnívoros podem ter maiores níveis de contaminação, entretanto, os peixes que estão disponíveis para consumo em larga escala não são destes locais e não devemos parar de consumir peixes de uma maneira geral.
Para finalizar:
PREFIRA: peixes selvagens, pequenos e de preferência não carnívoros. O peixe que mais gosto de indicar é a sardinha, pois é um peixe pequeno, um dos mais ricos em ômega-3 e com um ótimo custo-benefício.
EVITE: Cação, Peixe-Espada, Traíra, Trairão, Surubim, Pescada branca e Piranha preta.
ATENÇÃO: Atum e Salmão são peixes que dependem muito da procedência, já que são peixes que estão mais próximo do topo da cadeia alimentar. Procure comer apenas quando souber a origem.
Espero ter conseguido ter esclarecido de uma maneira geral este assunto e que a partir de agora você consiga fazer uma escolha mais consciente.
Referências Bibliográficas:
-Lima, et al. Contaminação por metais pesados em peixes e água da bacia do rio Cassiporé, Estado do Amapá, Brasil. Acta Amaz. vol.45 no.4 Manaus out./dez. 2015
-Dias AC1, Guimarães JR, Malm O, Costa PA. [Total mercury in muscle of the shark Prionace glauca (Linnaeus, 1758) and swordfish Xiphias gladius Linnaeus, 1758, from the South-Southeast coast of Brazil and the implications for public health]. Cad Saude Publica. 2008 Sep;24(9):2063-70.
-Bernardes J. USP: http://www5.usp.br/34095/analise-de-peixes-pode-indicar-presenca-de-metais-pesados-nos-parques-ibirapuera-e-tiete/. 2018.
-Arantes FP1, Savassi LA1, Santos HB2, Gomes MV3, Bazzoli N1. Bioaccumulation of mercury, cadmium, zinc, chromium, and lead in muscle, liver, and spleen tissues of a large commercially valuable catfish species from Brazil. An Acad Bras Cienc. 2016 Mar;88(1):137-47. doi: 10.1590/0001-3765201620140434. Epub 2016 Feb 5.
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